domingo, 7 de agosto de 2011

Across the Universe

Day 16 - To Someone That Isn't In Your State/Country


"So have a good life
Do it for me
Make me so proud
Like you want me to be
Where ever you are
I'm thinking of you oceans apart
I want you to know"



Isarma,


Sua carta chegou, e o "miss you" me deixou com coração apertado. Sempre que eu lembro da distancia meu coração fica apertado. O bom é que estamos tão acostumadas com o fato que estamos fisicamente distantes que muitas vezes nem notamos. 


Por outro lado, longe é um lugar que não existe e nunca existiu para nós. Não desde que sentamos juntas na escada e acabamos com a distância para sempre.


Você está bem, e feliz, e isso me deixa mais tranquila. Sua felicidade me alegra e acho a distância um preço pequeno a se pagar por ela.


E, onde quer que seja, através de todo universo, nós continuaremos juntas.


Amo você. Sempre.


Sua mais que irmã.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

I Open At The Close

"Finalmente, a verdade. Deitado com o rosto pressionado contra o tapete empoeirado da sala onde uma vez pensara estar aprendendo os segredos da vitória, Harry entendeu afinal que não deveria sobreviver. Seu trabalho seria caminhar calmamente para os braços acolhedores da Morte. Pelo caminho, devia se livrar das ligações remanescentes de Voldemort com a vida, de modo que, quando se lançasse no caminho do bruxo, sem levantar uma varinha para se defender, o final seria limpo, e o trabalho que deveria ter sido feito em Godric’s Hollow estaria completo. Nenhum viveria, nenhum poderia sobreviver.
Sentiu o coração batendo furiosamente no peito. Como era estranho que em seu pavor da morte, ele pulsasse mais forte, mantendo-o vivo com valentia. Mas teria que parar, e logo. Os batimentos estavam contados.
Haveria tempo para quantos mais, no momento em que se levantasse e caminhasse pelo castelo pela última vez, saindo para o terreno e entrando na floresta?
O terror o inundou enquanto jazia no chão, com aquele tambor funerário batendo dentro de si. Doeria morrer? Todas as vezes que pensou que estava a ponto de morrer e escapara, nunca realmente cogitara a coisa em si. Sua vontade de viver sempre foi muito mais forte que seu medo da morte. No entanto não lhe ocorria agora tentar escapar, fugir de Voldemort. Estava encerrado, sabia disso, e tudo o que restava era a coisa em si mesma: morrer.
Se pudesse ter morrido naquela noite de verão quando deixou a rua dos Alfeneiros pela última vez, quando a nobre varinha de pena de fênix o salvou! Se pudesse apenas ter morrido como Edwiges, tão rápido que nem saberia o que acontecera! Ou se pudesse ter se lançado na frente de uma varinha para salvar alguém que amava... Agora até invejava a morte de seus pais. Essa caminhada a sangue frio para a própria destruição requeria um tipo diferente de bravura. Sentiu seus dedos tremendo um pouco e fez um esforço para controlá-los, embora ninguém pudesse vê-lo. Os retratos nas paredes estavam todos vazios.
Lentamente, muito lentamente, sentou-se, e quando o fez, sentiu-se mais vivo e mais consciente de seu próprio corpo do que nunca. Por que nunca apreciara o milagre que era: cérebro e coragem, e um coração pulsante?
Tudo isso seria perdido... ou pelo menos, ele se perderia disso tudo. Sua respiração ficou lenta e profunda,e a boca e garganta estavam completamente secas, mas seus olhos também.
A traição de Dumbledore não era quase nada. Claro que havia um plano maior. Harry simplesmente fora tolo demais para vê-lo, e percebia isso agora. Nunca questionara a sua própria suposição de que Dumbledore o queria vivo. Agora via que sua expectativa de vida sempre fora determinada pelo tempo que levaria para eliminar todas as Horcruxes. Dumbledore lhe deixara o trabalho de destruí-las, e obedientemente ele continuara a destruir implacavelmente os laços que amarravam não apenas Voldemort, mas a si próprio, com a vida! Que perfeito, que elegante não desperdiçar mais vidas, e sim dar a tarefa perigosa ao garoto que já estava marcado para morrer, e cuja morte não seria uma calamidade, mas apenas outro golpe contra Voldemort.
E Dumbledore sabia que Harry não tentaria se safar, que continuaria até o fim, mesmo que fosse o seu fim, porque se deu o trabalho de conhecê-lo, não é? Dumbledore sabia, assim como Voldemort sabia, que Harry não iria deixar ninguém mais morrer por ele agora que descobrira que estava ao seu alcance terminar tudo. As imagens de Fred, Lupin e Tonks jazendo mortos no Salão Principal forçaram a passagem de volta à sua mente e por um momento, mal pôde respirar. A Morte era impaciente...
Mas Dumbledore o superestimou. Tinha falhado: a cobra sobreviveu. Um Horcrux continuava a conectar Voldemort à terra, mesmo depois que Harry fosse morto. Verdade que essa seria uma tarefa mais fácil para alguém. Ficou pensando quem o faria... Rony e Hermione sabiam o que seria preciso fazer, é claro... esse seria o motivo pelo qual Dumbledore queria que ele confiasse em outros dois... de modo que se ele cumprisse seu verdadeiro destino um pouco antes, eles poderiam prosseguir...
Como a chuva numa janela fria, esses pensamentos tamborilavam contra a dura superfície da verdade incontestável, que era que ele tinha que morrer. Eu tenho que morrer. Isso tem que acabar.
Rony e Hermione pareciam muito longe, em um país distante. Sentia como se tivessem partido há muito tempo. Não haveria despedidas nem explicações, estava determinado a isso. Esta era uma jornada que não poderiam fazer juntos, e o esforço que fariam para detê-lo desperdiçaria um tempo valioso. Olhou para o relógio
de ouro surrado que ganhara em seu décimo sétimo aniversário. Já havia passado quase metade da hora de prazo concedida por Voldemort para sua rendição.
Ficou de pé. Seu coração saltando contra as costelas como um pássaro frenético. Talvez quisesse executar todos os batimentos de uma vida antes do fim. Não olhou para trás ao fechar a porta da sala."

Dia 11.

Nós mal nos vemos por anos, mas parece agora que isso quase não faz diferença. Pareceu, também, naquela outra vez, na última vez que nos falamos, que tempo nenhum tinha passado. Horas em silêncios confortáveis e conversas sussurradas. Sua voz era mais fraca, mas as palavras eram as mesmas.

Seu corpo tinha mudado completamente, mas o eu essencial não se perdeu, e nós falamos dos velhos tempos e de novas idéias. Eu esperei que você pudesse ter paz, sem entender que mesmo sofrendo, seu desejo de viver era tão mais intenso do que as limitações da sua dor. E você deu a eles mais um ano, não é mesmo? Você sempre foi forte, Andreia, o que me ajudou a ser forte. Você sempre fez o que precisava ser feito.

Eu aprendi muitas lições com você -- algumas, ditas sem palavra nenhuma. Me encantou com a História, e me animava com seu respeito. Era um modelo para todos nós, e ninguém entendia como aquilo tinha acontecido, mas virou mais uma de nós assim que eu sentei em sua mesa naquela festa -- mais de vinte anos atrás.

Em algum lugar aqui em casa tem um recado seu, no meu caderno de quinze anos, mas eu não vou procurá-lo. Ele vai me deixar triste, e você não gostaria disso. Aliás, eu nem estou triste: estou pensativa. Com saudades, claro -- eu a tive todos esses anos, sem conseguir pisar naquela casa feita de pesadelos infantis, então eu já quase me habituei a ela. A saudade faz parte, mas não é motivo para tristeza.

Você nos deixou na manhã de ontem, e fico feliz de ter ido te dar um último adeus -- um último alento -- segurar sua mão e cantar na minha voz quase perdida pedindo um feliz reencontro depois daqui. E quando entrei em seu quarto pela primeira vez -- pela última vez -- e vi a Mãe na tua cabeceira, te fitando, soube que estaria bem guardada em sua partida e em sua estada. E isso me deixa tranquila, porque foi exatamente como tinha que ser, nem mais, nem menos. A morte faz parte da vida, afinal.

Eu gostaria de subir entre as árvores para acompanhar tuas cinzas no último descanço, mas duvido que ele vá deixar -- ele não gosta muito de companhia, não é? Mas eu me fiz presente, e teria feito de novo, porque sei que seria isso que você quereria -- que fizessemos a coisa certa.

Espero tê-la feito.

Feliz Partida, minha querida.

(E eu sinto tanto orgulho de você)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

I get by with a little help from my friends

Para Lih, em seu aniversário (novamente atrasado)

Não existem átomos, carbonos, ligações ou juras que façam famílias. Não é sangue, ou promessas, não é vivência ou palavras. Famílias são coisas assim: além das ligações, além das explicações. É suor, lágrimas, gritos, acusações e perdões. É sair, e voltar. É entender, e discordar. É se envolver, sem dever, apenas por sentir que precisa. 

Não são dedos entrelaçados, ou corações unidos: é muito mais a respeito da perda e da raiva, das coisas que se constrói e destrói. Família não é paz, as duas coisas não poderiam viver juntos. Respeito, sim, mas não a leveza e a tranquilidade, pois pesa tanto, que esmaga ambos, e como um círculo inquebrável, como peças de um dominó, derruba a todos em volta. 

Apesar disso, ás vezes, a derrubada das peças forma um belo desenho. Como reações químicas, das quais surgem novas construções, de diferentes configurações, naturezas e utilidades. De repente um elétron pula de um anel para o outro, e tudo se desfaz, e se refaz. E pode ser assustador, e esmagador: mas é assim mesmo. A vida é assim, e a natureza é assim, e tudo decai antes que novas coisas possam nascer.

E como as folhas fertilizam o solo no outono, e ele se quebra e resseca durante o inverno, a primavera ressurge toda vez, límpida e verde, cheia de novos sons, aromas e novos filhotes, que crescem que se saiba como -- porque, na verdade, todo crescimento é insuspeitado de alguma forma. Mesmo conhecendo os detalhes técnicos-científicos de tais coisas, elas ainda constituem de um mistério, e ainda maior por sabermos tanto.

As partes reunidas formam um todo, mas cada parte é um todo em si mesmo, e isso vale a pena ser lembrado. Porque independente das famílias que formamos, ainda estamos presos cada um dentro de seu próprio mundo e existência, um todo completo em si. Uma vida.

São todas palavras e palavras tolas, pois meros sons e marcas não podem transmitir mais do que parte do significado por detrás das idéias que as movem -- como as próprias pessoas. Como cada pequena pegada nada é além da sombra do passo que foi dado, sem reter em si todo o esforço que ele custa.

E no final, é tudo inexplicável -- e sem saber quando, sem saber como, apenas sabemos que as flores voltarão. E de seus delicados miolos, nova vida surgirá.

Só gostaria que, para você, saber isso fosse o bastante.

Mas por mais que tudo seja, nada é.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Eleanor of Aquitaine: by the wrath of God, Queen of England‎

Para  Júlia, pelo seu aniversário (atrasado).

Nunca duvidei que nasci para reinar. Já era claro quando ainda era uma menina que nunca deixaria um mero garotinho tomar meu lugar. Eu era a herdeira, próxima duquesa da Aquitânia, futura Condessa de Poitiers, o melhor partido da Europa. Enquanto eu aprendia a toca o alaúde, já sabia que meus dedos eram de ouro, e que meu toque elevaria qualquer amado ao poder.

Então meu pai se foi, e veio Luís – pobre, fraco, adorável Luís – e eu o toquei com meus dedos dourados – de duquesa, de condessa, de poetisa; e logo ele tornou-se rei. Eu, Rainha da França, criei em torno de mim a corte que para sempre tornaria-se símbolo da realeza francesa: boa poesia, boa música, e todo romance possível. Tornei-me musa, e mãe de princesas, e montei em meu cavalo para libertar a Cristandade dos terríveis Mouros. Fui a cruzada como quem vai a um baile, e nela tudo ficou claro para mim: eu era Rainha, mas Luís, tão devoto, jamais seria O Rei.
E eu não poderia suportar mais tanta fraqueza, de forma que meus olhos fugiram rápido, os braços envolvendo o jovem e belo rapazinho que viria a ser o Duque da Normandia – Conde de Anjou, e ao meu toque, ele floresceu como homem e como guerreiro: cruzando o canal, tornou-se Rei. E eu, que fora rainha da França, recebi em minha bela cabeça a coroa da Inglaterra.

Meu belo Henrique, era um homem ativo, um homem apaixonante, e eu o amava com uma fúria irracional. Ele não era um fraco, e eu não podia dirigi-lo, e ele me fazia lembrar sempre de que eu era sua mulher – e que devia aceitar suas indiscrições. Adorava sua força, e odiava-o ao mesmo tempo. Tudo fazia ferver nossa rivalidade, e enquanto enchíamos a Ala Infantil de jovens e fortes crianças, ensinei-as no meu colo a odiar o pai.

Eu me refugiei com eles em meu belo ducado, e os ensinei sobre cavalheirismo, lealdade, força, e guerra: incentivei-os a lutar contra o pai, e com meu ex-marido, ameacei Henrique com uma luta que nunca aconteceu. Ele me castigou, é claro, pois diferente de Luís, nunca deixou que seus sentimentos levassem a melhor. E presa, isolada, eu passei tantos anos – pagando por retribuir sua traição.

Ele podia ter me cortado a cabeça, e eu nunca saberei por que ele não o fez; talvez temesse que jamais pudesse manter a Aquitânia, pois meu povo me era leal ao ponto de rejeitar meu amado filho, meu querido Ricardo, meu favorito. Eu tinha plantado bem demais a semente do ódio, e nosso herdeiro morreu lutando contra o pai, e meu marido morreu lutando contra nosso belo Ricardo.

Todos os homens que eu amei, tornaram-se reis, mas nenhum tão admirável quanto meu filho Ricardo; em seu porte majestoso e sua coragem cantada, em seu entusiasmo guerreiro, e sua lealdade que me libertou imediatamente para que eu recebesse a coroa em seu nome. Governei para meu filho enquanto ele refazia meus passos, levando a cruz a Jerusalém, sagrando-se o mais famoso comandante da cristandade, como seu pai um dia fora. Com minhas mãos fortes, segurei o império que lutei por, com e contra Henrique para construir.

E, ao fim, desejei que ele tivesse me cortado a cabeça, mas isso teria sido misericórdia demais. Meu coração foi arrancado com a força de um Leão enquanto uma flecha matava meu Ricardo, e com cacos de mim que vi meu caçula, João, subir ao trono da Inglaterra.
Não criei João, não o ensinei a lutar e odiar seu pai – Henrique cuidou disso, mantendo-o longe de minha cela, e ele criou-se um fraco. Talvez por isso tenha perdido a Normandia, a autonomia para os barões, a coroa e a vida ao fugir do neto de meu Luís, que vinha lhe tomar o trono.

Talvez tudo isso seja porque nunca o toquei.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Como se fosse real

"True, I talk of dreams,
Which are the children of an idle brain,
Begot of nothing but vain fantasy,
Which is as thin of substance as the air
And more inconstant than the wind, who wooes
Even now the frozen bosom of the north,
And, being anger'd, puffs away from thence,
Turning his face to the dew-dropping south."
(Romeo and Juliet - Shakespeare)


Ouvi uma vez um sujeito muito sábio - e muito, muito, muito velho - dizer que tudo tem seu tempo. Vocês devem lembrar dele - surge às vezes durante a noite, interrompendo o sono e terminando em lágrimas nos olhos abertos, nos sonhos de outras pessoas também. Acho que vocês entendem isso muito bem -- são os outros que não entendem. Eles tem pressa demais, empurram demais, chamam demais, reclamam demais. Nós dois sabemos que não é assim. Um passo de cada vez. Tudo a seu tempo. 

Vocês são tão engraçados, e diferentes -- até mesmo contraditórios! Nem mesmo o ritmo tem em comum. Entre baby steps e a corrida desarvorada do desespero, vocês povoam minha vida e a das pessoas a minha volta. Alguns pacientes, outros eufóricos, mas todos me parecem tão antigos. 

Engraçado pensar que todos que abandonei em algum ponto, voltaram sorrateiramente para me assombrar (ou alegrar? rs). Vocês podem me levar as lágrimas por um season finale, ou perturbar meu trabalho com suas intromissões. Aliás, todos os momentos, menos aqueles em que tento transformá-los em realidade - afinal, ai, qual é a graça?

Passo a passo, devagarzinho, eu vou desfazer cada um de vocês. Bem devagar, é claro, porque é sempre preciso de algo para sonhar; mas espero que conforme alguns forem atravessando a linha para o lado do real, outros venham tomar seu lugar. 

Não tenho pressa, juro. 

Só desejo e certeza.

Espero que isso seja o suficiente.

"The universe will sing you to sleep."

sábado, 17 de julho de 2010

Apocalíptica

to a stranger


"Ele não vira pela espera; eles não dirão, 'olha aqui' ou 'olha lá'.
Mas o Reino do Pai está espalhado pela terra 
e os homens não o vêem."


Acho que posso te considerar um estranho, nunca fui de falar 'contigo', nem de crer em ti como os outros crêem. Não temos intimidade alguma, portanto, somos estranhos, e isso valida essa carta.

Mas, bem, pelo que eu sei (e é bastante, se não em quantidade, me parece, em compreensão), tu era um cara bem legal. Genial, até. O mais belo pacifista, liberal, respeitava de si mesmo e dos outros. Sabia que não devia julgar em uma sociedade que considerava o indivíduo como nada; talvez por isso te considerassem meio divino, talvez tu fosse mesmo, e não me importa muito essa outra parte. Esse outro lado, dogmático e religioso, eu não me importo, não me faz diferença -- nem é minha praia.

No entanto, tu era um cara legal, com um monte de visões que deviam sim ser partilhadas e tornarem-se mais comuns. Engraçado, dizem para mim que eu vivo num mundo que tu influenciou pra caramba, mas não vejo isso na vida. Ninguém dá a cara a tapa 7 mil vezes. Atira-se pedras com 'pecados' na alma (para usar seu termo, não meu). Não se perdoa a opinião alheia, e julgam demais a crença dos outros.

E, bah, isso bem é sua culpa. Tu era genial, mas a galera com quem você andava... Sei não, hein? Eles eram meio duvidosos. Lucas era dado ao plágio, Judas a ganância (isso é... se tu não combinou tudo com ele), Pedro era inconstante... E tu o chamou de pedra, não é? Sabendo que ele te renegaria, três vezes, quando tu precisava mais de alguém pra te proteger. A vida é mesmo injusta. E aquele outro, Paulo, ele era dado à tirania e a amargura. Foi ele, não tu, quem acabou influenciando esse mundo, e olha a MERDA que deu!

Claro que você não podia prever e evitar isso, mas podia ter escolhido pessoas que aprendessem melhor, sabe? Pessoas que respeitassem tem ponto de vista, e o passassem para frente, ao invés de criarem loucuras sem sentido e contrárias as coisas que tu dizia. Agora já é meio tarde, é verdade. O problema é que a maçã podre apodrece todo o cesto. De cada 1 milhão de pessoas que dizem andar contigo, acho que nem 10 o fazem de verdade. A hipocrisia - que me parece ser algo que você detestaria, você morreu para não ser hipócrita - domina aquilo que devia ser teu rebanho, o tornando algo desprezível de se ver.

As guerras, a dominação, a ganância, tanta coisa feita em seu nome, sujando teu nome. Esse não era você, não é, Jesus? Todas as coisas que podemos aprender, aquilo que podemos achar, olhando para dentro e vendo como tudo se interliga, essa parte foi desprezada, escondida, queimada; junto com as ruínas alimentadas por um ódio que não combina com suas palavras.

O mundo é injusto mesmo, e fica difícil achar o paraíso em si, porque quando você olha pra fora, tudo está errado e fora do lugar, fora de sintonia. 

Não te odeio, não te desprezo, não te acho má pessoa. Te acho um bom filosofo, te acho uma pessoa de inteligência ímpar, admirável, até, especialmente considerando teu tempo.

... Mas aquela gente que anda contigo, hein?

Sei não.

Eu desconfio.


Ps: Como a Júlia bem me lembrou, tu já dizia... Diga-me com quem andas, e eu te direi quem és. Olha ai a merda feita.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Parting of the Ways

"My hands are tied, my body bruised

She got me with

Nothing to win and

Nothing left to lose

And you give yourself away"

Clarissa,

Eu lembro melhor do dia que tu nasceu do que do dia que o Arthur nasceu (e tem tão poucos meses!). Eu lembro da boneca que ganhei, e lembro da casa da minha (nossa) avó antes da obra. Eu lembro do berço de madeira onde eu dormi naquela noite, da Amor-Perfeito que 'você' me deu no hospital. Eu lembro de te achar linda, e tão pequena.

Vejo suas fotos, e você parece muito com Arthur, de certa forma. Mais que eu, embora isso não seja surpreendente, você parece mais com David que eu. Você nunca pareceu muito comigo, mas não me importava. Eu entrava no seu berço para dormir contigo quando você era pequena, e isso me rendeu muitas broncas. Eu cuidava de você, porque é isso que irmãs mais velhas devem fazer.

Cuidar de você passou a ser uma obrigação que eu cumpria com alegria.

Até começar a ser um peso grande demais.

Proteger você era meu modo básico de ação, e eu faria qualquer coisa para que nada de acontecesse (e fiz. eu fiz. em silêncio). E era muito mais do que eu poderia aguentar, e me partiu de uma forma que ninguém soube consertar. Eu fiz, porque amava você. Porque achava que devia. Porque não poderia suportar não fazer, não podia suportar o risco de algo - tão horrível - te acontecer.

Eu me afastei de você, porque tinha raiva e inveja, de você, da sua proteção, da sua inocência. Você era linda, pura, de uma forma que eu não podia ser. Eu me afastei porque tinha sacrificado tanto, e ganhado nada, e isso doía. Eu me afastei porque não podia, não sabia mais te amar. Era difícil demais.

Sei que você sofreu muito com isso; mas o que eu podia fazer? Se eu soubesse fazer diferente, teria feito. Mas minha única forma de me proteger -- de proteger vocês -- era me isolar. Então, melhor estar sozinha.

Sempre fui boa em ficar sozinha, por incrível que te pareça.

Você se tornou uma garota bonita, inteligente, esforçada. Uma jovem cheia de sonhos, futuros, tão equilibrada, nada problemática. Eu sinto orgulho, claro, porque de certa forma eu também tenho responsabilidade por isso ai.  E espero que continue assim, andando na direção que deseja, se dedicando ao que ama, aproveitando sua juventude com todo seu juízo. 

Não chore quando pôr a mesa e eu tiver ido embora. Você sempre soube que isso aconteceria. Não tenha ciúmes quando eu colocar meu bebê no colo, ele acabou de chegar e agora é ele que precisa do meu cuidado e da minha proteção. Você vai entender quando crescer, meu bem. Um dia, em uns 15 anos (o dobro da sua idade!), você vai ter o seu. Não seja agressiva sem motivo, não adianta ter raiva. É assim que as coisas são, e sempre teriam sido. Você, meu bem, não precisa mais de mim. Você cresceu, e você tem sua mãe, eu tenho meu filho,  e eu já te dei tudo que poderia dar e mais um pouco. Eu estarei aqui, claro, e ouvirei sempre, claro. Mas você não precisa de mim.

Eu não preciso também, do seu agradecimento. Não mais. Eu só preciso que você seja feliz.

"And if you wanna remember me, then you can do one thing, that's all, one thing. 
 Have a good life. Do that for me, Rose. Have a fantastic life.