quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

I get by with a little help from my friends

Para Lih, em seu aniversário (novamente atrasado)

Não existem átomos, carbonos, ligações ou juras que façam famílias. Não é sangue, ou promessas, não é vivência ou palavras. Famílias são coisas assim: além das ligações, além das explicações. É suor, lágrimas, gritos, acusações e perdões. É sair, e voltar. É entender, e discordar. É se envolver, sem dever, apenas por sentir que precisa. 

Não são dedos entrelaçados, ou corações unidos: é muito mais a respeito da perda e da raiva, das coisas que se constrói e destrói. Família não é paz, as duas coisas não poderiam viver juntos. Respeito, sim, mas não a leveza e a tranquilidade, pois pesa tanto, que esmaga ambos, e como um círculo inquebrável, como peças de um dominó, derruba a todos em volta. 

Apesar disso, ás vezes, a derrubada das peças forma um belo desenho. Como reações químicas, das quais surgem novas construções, de diferentes configurações, naturezas e utilidades. De repente um elétron pula de um anel para o outro, e tudo se desfaz, e se refaz. E pode ser assustador, e esmagador: mas é assim mesmo. A vida é assim, e a natureza é assim, e tudo decai antes que novas coisas possam nascer.

E como as folhas fertilizam o solo no outono, e ele se quebra e resseca durante o inverno, a primavera ressurge toda vez, límpida e verde, cheia de novos sons, aromas e novos filhotes, que crescem que se saiba como -- porque, na verdade, todo crescimento é insuspeitado de alguma forma. Mesmo conhecendo os detalhes técnicos-científicos de tais coisas, elas ainda constituem de um mistério, e ainda maior por sabermos tanto.

As partes reunidas formam um todo, mas cada parte é um todo em si mesmo, e isso vale a pena ser lembrado. Porque independente das famílias que formamos, ainda estamos presos cada um dentro de seu próprio mundo e existência, um todo completo em si. Uma vida.

São todas palavras e palavras tolas, pois meros sons e marcas não podem transmitir mais do que parte do significado por detrás das idéias que as movem -- como as próprias pessoas. Como cada pequena pegada nada é além da sombra do passo que foi dado, sem reter em si todo o esforço que ele custa.

E no final, é tudo inexplicável -- e sem saber quando, sem saber como, apenas sabemos que as flores voltarão. E de seus delicados miolos, nova vida surgirá.

Só gostaria que, para você, saber isso fosse o bastante.

Mas por mais que tudo seja, nada é.

Um comentário:

Liih disse...

Di, meu Deus, obrigada obrigada! Uma das coisas mais lindas que eu ganhei de aniversário certamente foi esse texto. vou guardá-lo com muito amor e carinho no coração porque ele falou muita coisa que eu precisava ouvir num dia que era tão especial pra mim
E é ótimo saber que pessoas das quais nós gostamos se importam o suficiente para fazer uma coisa como essa.

Obrigada! (L)