sexta-feira, 9 de julho de 2010

As promessas mortas da juventude torta. Ou as promessas tortas da juventude morta, quem sabe.

"Oh que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais"


Quando eu penso em "melhores amigos" eu sempre penso em você. Oras, nada mais natural. Você foi minha primeira melhor amiga, e a maior de todas elas por tantos e tantos anos.

Este ano fizeram vinte anos que nos conhecemos. Eu tenho amigas que não tem isso de vida, ainda, e nós temos isso de vida em comum. Estive pensando nisso, esses dias. Lembrei de você, no seu aniversário. Mas não liguei, não tinha o telefone, e nunca decorei o número extra da sua casa. Agora, ele é o único, e eu não sei de cabeça. Então, não liguei. Mas lembrei de você, sim, e achei algumas cartas que trocamos na nossa adolescência. Não senti saudade, na verdade, quando as li. Não preciso te ligar ou te ver para gostar de você. Depois de tanto tempo, isso chega a ser supérfluo. 

É um pouco engraçado, porque todos esperam que eu escreva coisas engraçadas sobre nossa história, e eu lembro de tantas que não saberia escolher uma só. Claro, elas dariam centenas de páginas de Ria da minha vida antes que eu ria da sua, só que não é isso que conta. Eu estive lá contigo nos outros momentos, e é triste que eu lembre tão bem de cada marca, de cada vergonha, das palavras que eu não poderia dizer porque se aquilo viesse à tona, eu precisaria confessar também.

E eu quis que você nunca soubesse. 

Você nunca soube, embora tanta gente que me conheça tão menos e a tão menos tempo saiba. Não te contei na época, e estava tão aterrorizada... E depois me sentia culpada de não ter dito. Quando chegou a hora de te dar a mão, eu o fiz em silêncio. 

Você foi a primeira pessoa que eu contei - voluntariamente, não conta aquelas pessoas que estavam grudadas em mim no telefone - quando recebi o resultado do meu exame, positivo. E na mesma hora, você soube que teria um afilhado. Na verdade, nós já sabíamos que seria seu afilhado quando quer que viesse. 

Me mudar nos fez nos falar muito pouco. Eu nunca entendi porque você não usa mais o msn, ele ajudaria. Minha paciência pra telefone é curta, e os horários ruins para ficar aguentando barulho e chiado. Tudo bem. A gente fala quando precisa, quando é importante. Já passamos do tempo de fofocar sobre os vizinhos, ou de fugir em segredo durante a noite. 

Nós não freqüentamos os mesmos lugares, não ouvimos as mesmas músicas, não lemos os mesmos livros, não temos o mesmo tipo de pensamento. E, por algum tempo, eu achei que isso nos afastava. Hoje em dia, acho que não faz a menor diferença. Nós temos o mesmo sangue, mesmo sem ter, e toda uma história, mesmo sem nos falar todo dia. "Growing apart" é uma expressão que não faz sentido aqui. Eu não preciso aprovar para amar, e isso é tudo.

E toda vez que o sol bate nos meus cabelos pintados, eu lembro de você.

2 comentários:

Júlia disse...

vinte anos de amizade me faz pensar que sou uma das tuas amigas que tem isso tem. e eu que acho amizades de 5 anos, longas.

Diana disse...

Ué, mas são mesmo longas! AHAHHA. Mesmo que não tanto quanto 20. ^^'