sexta-feira, 9 de julho de 2010

Two Broken Golden Rings

"É preciso força pra sonhar e perceber
Que a estrada vai além do que se vê"


Eu olho para o relógio digital e lembro que você vai estar aqui em seis horas. Vai ser como sempre é, nós dizemos oi, e você tem sempre a mesma expressão cansada. Não falamos muito, mas nos tratamos bem. E dizemos tchau, e nos vemos em alguns dias. E nos falamos depois de mais alguns. Eu penso que continuará a ser assim por anos, muitos anos. E não tem problema, mesmo, porque eu não me arrependo ou guardo mágoa. Foi como deveria ser, e ainda bem que foi. E ainda bem que não é.

Você provavelmente não lembra, e nunca foi bom com datas, mas hoje fazem 4 anos que deixou de ser. Eu lembro, claro, porque foi a maior ironia possível coincidir com o aniversário de casamento dos meus pais. 

Eles fazem 27 anos casados hoje. Nós fazemos quatro separados. Mas, no fundo, é a mesma coisa, porque fizemos todos o melhor possível. Estamos felizes assim, e isso é o que importa. 

Ainda tem uns VHS seus aqui. Uma calça de moletom que era sua, e eu uso de pijama até hoje (é impressionante como é difícil achar calças de moletom!). Uns CDs, também, aposto. Algumas fotos. Mas nada disso me perturba, a não ser quando tento organizar as coisas e não consigo. Certamente já te avisei e já te pedi para levar algumas destas coisas centenas de vezes. Você nunca lembra. Eu esqueço, também. 

Achei esses dias aquela pulseira com teu nome em dourado, que ficava no meu pulso. Está meio apertada, e eu dei pro Arthur, que ficou muito feliz. Eu já pensei em te devolver várias vezes, e lembro firmemente de ter separado para dar a Letícia em Yule, ao menos umas duas vezes antes. Mas ela sempre acaba se perdendo nos limbos da casa, e eu vou achar meses depois. Provavelmente já se perdeu de novo, e eu vou esquecer que ela sequer existiu. É assim mesmo.

Eu lembro de muita coisa com carinho, porque foi um tempo especial e tudo mais. Mas o que mais me impressiona são as coisas que eu não lembro. Ou melhor, que eu sei, mas me parecem absolutamente irreais. Chega a ser engraçado, por exemplo, pensar que nós fizemos sexo. Me parece tão surreal, e no entanto, isso definiu todo nosso relacionamento -- ainda faz toda diferença, e define todo nosso relacionamento. É engraçado, afinal, de onde mais viriam os bebês? No entanto, de certa forma, é como se nunca tivesse acontecido. Eu não consigo olhar para você e pensar nessas coisas, lembrar dessas coisas, pois elas deixaram de existir na minha cabeça. As coisas mudaram tanto, e eu penso em você a maior parte do tempo como penso na Clarissa. Ou quase, porque, como comentamos outro dia, ainda é surreal pensar que ela pode dirigir agora. O tempo passa depressa demais.

Vendo fotos outro dia, achei nossa foto mais antiga. Aquela, em que a gente é guri e está cantando parabéns para sua prima. E eu sou tão mais alta que você, e essa idéia também me é risível. Quantos anos ela deve ter? Uns doze? E se alguém me dissesse que eu teria um filho com aquele menininho, eu acharia a pessoa louca demais. A gente brigou uma vez por essa coisa de família, eu lembro. Foi uma briga besta, mesquinha, e que não levou a lugar algum. Você dizia que eram duas famílias, e eu dizia que era a mesma coisa, que família era família e ponto final. Oras, claro que eu defenderia isso, porque no meu coração, ainda somos familiares um do outro independente do fim. Continuamos dividindo algo que modela nossas vidas, e eu vou continuar a torcer por você e ficar contente por cada conquista. 

Eu continuarei a pedir pelo seu bem e pelo dos seus quando resolver rezar, e continuarei a esperar que você consiga seu melhor. Não só pelo Arthur, mas pela sua própria felicidade. Pais felizes criam crianças mais contentes, eu acho. E eu quero que você seja feliz, claro, e que se sinta realizado.  Eu sinto orgulho de suas conquistas, porque acredito em seu potencial. Como profissional, como pai, como pessoa. 

Talvez eu seja apenas tola e sentimental, mas isso não é nenhuma surpresa. Todo mundo sempre soube disso. E, aliás, explica toda nossa história muitíssimo bem. Hahahaa.

O que importa é que eu agradeço todos os dias pelo que tivemos -- porque isso possibilitou a maior alegria que eu já conheci. E agradeço todos os dias por ter tido a chance de experimentar tudo que experimentei, pelo quanto me transformou, porque, no final, as alegrias me são tão mais importantes do que as tristezas e decepções! E, com você, eu tive uma que me acorda aos berros pela manhã e pede beijos de boa noite, e por isso, eu definitivamente, sou grata.

Walk on! Walk on!
Stay safe tonight

Um comentário:

Julia disse...

Que coisa querida!