sábado, 17 de julho de 2010

Apocalíptica

to a stranger


"Ele não vira pela espera; eles não dirão, 'olha aqui' ou 'olha lá'.
Mas o Reino do Pai está espalhado pela terra 
e os homens não o vêem."


Acho que posso te considerar um estranho, nunca fui de falar 'contigo', nem de crer em ti como os outros crêem. Não temos intimidade alguma, portanto, somos estranhos, e isso valida essa carta.

Mas, bem, pelo que eu sei (e é bastante, se não em quantidade, me parece, em compreensão), tu era um cara bem legal. Genial, até. O mais belo pacifista, liberal, respeitava de si mesmo e dos outros. Sabia que não devia julgar em uma sociedade que considerava o indivíduo como nada; talvez por isso te considerassem meio divino, talvez tu fosse mesmo, e não me importa muito essa outra parte. Esse outro lado, dogmático e religioso, eu não me importo, não me faz diferença -- nem é minha praia.

No entanto, tu era um cara legal, com um monte de visões que deviam sim ser partilhadas e tornarem-se mais comuns. Engraçado, dizem para mim que eu vivo num mundo que tu influenciou pra caramba, mas não vejo isso na vida. Ninguém dá a cara a tapa 7 mil vezes. Atira-se pedras com 'pecados' na alma (para usar seu termo, não meu). Não se perdoa a opinião alheia, e julgam demais a crença dos outros.

E, bah, isso bem é sua culpa. Tu era genial, mas a galera com quem você andava... Sei não, hein? Eles eram meio duvidosos. Lucas era dado ao plágio, Judas a ganância (isso é... se tu não combinou tudo com ele), Pedro era inconstante... E tu o chamou de pedra, não é? Sabendo que ele te renegaria, três vezes, quando tu precisava mais de alguém pra te proteger. A vida é mesmo injusta. E aquele outro, Paulo, ele era dado à tirania e a amargura. Foi ele, não tu, quem acabou influenciando esse mundo, e olha a MERDA que deu!

Claro que você não podia prever e evitar isso, mas podia ter escolhido pessoas que aprendessem melhor, sabe? Pessoas que respeitassem tem ponto de vista, e o passassem para frente, ao invés de criarem loucuras sem sentido e contrárias as coisas que tu dizia. Agora já é meio tarde, é verdade. O problema é que a maçã podre apodrece todo o cesto. De cada 1 milhão de pessoas que dizem andar contigo, acho que nem 10 o fazem de verdade. A hipocrisia - que me parece ser algo que você detestaria, você morreu para não ser hipócrita - domina aquilo que devia ser teu rebanho, o tornando algo desprezível de se ver.

As guerras, a dominação, a ganância, tanta coisa feita em seu nome, sujando teu nome. Esse não era você, não é, Jesus? Todas as coisas que podemos aprender, aquilo que podemos achar, olhando para dentro e vendo como tudo se interliga, essa parte foi desprezada, escondida, queimada; junto com as ruínas alimentadas por um ódio que não combina com suas palavras.

O mundo é injusto mesmo, e fica difícil achar o paraíso em si, porque quando você olha pra fora, tudo está errado e fora do lugar, fora de sintonia. 

Não te odeio, não te desprezo, não te acho má pessoa. Te acho um bom filosofo, te acho uma pessoa de inteligência ímpar, admirável, até, especialmente considerando teu tempo.

... Mas aquela gente que anda contigo, hein?

Sei não.

Eu desconfio.


Ps: Como a Júlia bem me lembrou, tu já dizia... Diga-me com quem andas, e eu te direi quem és. Olha ai a merda feita.

3 comentários:

Julia disse...

"Sei não.

Eu desconfio"


HAHAHAHAHAHAHAHAAHHAHAHAHAHAAHHA

É né, diz-me com quem andas e te direi quem és.

Muni disse...

"Engraçado, dizem para mim que eu vivo num mundo que tu influenciou pra caramba, mas não vejo isso na vida."

rá.

Rebeca disse...

Alguma pessoas me dizem que detestam você por seu jeito de ser dona da verdade, Di. Eu também penso que você se acha dona da verdade, mas eu também me acho dona da verdade, e por vezes nossas verdades diferem uma da outra, mas MESMO assim não te detesto.
E deve ser por esse texto. Não apenas por ele, mas por termos começado conversando sobre mediocridade, mudarmos de foco e falarmos sobre tantas outras coisas, e acabarmos terminando falando ainda em mediocridade.
O problema da minha verdade contra a tua é que acho que nasci num berço pintado de ouro que foi descascando rapidamente, e eu cresci sem esperar por nada, enquanto você chegou a ter esperanças, e as perdeu.
No final das contas, Di, eu devo dizer que gosto de você. S2
E que também desconfio do povo que anda com "o homi".