domingo, 11 de julho de 2010

Os nossos dias serão para sempre.

"Acho que você não percebeu
Que o meu sorriso era sincero
Sou tão cínico às vezes
O tempo todo
Estou tentando me defender"

Chega a ser engraçado, ver os outros falando sobre seus pais. É estranho, hoje em dia, pensar naquelas desculpas comuns "um dia você vai entender", e coisas assim. Eu entendo bem demais até. Não existem muitos mistérios, no final, é só uma questão de ponto de vista. De experiência. De estar do outro lado da linha.
"Nunca confie em ninguém com mais de 30 anos" foi algo que eu aprendi bem demais. "Não conte aos seus pais", eu aprendi bem demais. Ao ponto de me desligar tanto, que fiz de vocês um pouco menos pais e um pouco mais pessoas. E isso virou tão verdade ao ponto que nos damos bem como pessoas, temos interesses em comum, boas conversas, nos divertimos. Mas quando chega a hora de ser mãe-e-filha ou pai-e-filha, sempre acaba se tornando tenso. E, que engraçado é, estar mais acostumada a ser mãe do que a ser filha. 

Ontem eu não estava muito bem, mas não conseguia falar. São muitos anos de prática no silêncio, e se abrir parece estranho. Não que eu não sinta falta -- eu não sei ser filha direito, no entanto, conheço bem demais a sensação de precisar de um colo materno. Engraçado, sempre falam tanto que eu sou extrovertida, animada, tagarela; na maior parte do tempo eu estou falando para não dizer o que penso. Tenho vergonha de dizer o que eu sinto. Tenho vergonha de sentir. Não sei pedir ajuda.

E, bem, nós sempre esperamos que nossos filhos peçam ajuda. É tão difícil estar presente sem se intrometer, e o papel é passivo. Espere, deixe claro que estará lá, e eles vão correr para a barra da sua saia quando precisarem de verdade.

Eu sei dar colo.

Não sei pedir.

E, claro, não é culpa de nenhum de vocês. Eu vejo como a Clarissa pede, como ganha, e eu sei o valor disso. Eu sorrio, e fico feliz, e sempre existe aquela sensação de que falta algo. Mas, não, não poderia pedir.

Sou independente demais.

Cínica demais.

Me protejo demais, e não confio em mais ninguém para fazê-lo.

Tem sempre algo entre eu e vocês, uma barreira emocional intransponível.

Uma vez, você me perguntou se eu te culpava mais que ao meu pai. Mas você nunca me pediu perdão.  (E tem ainda mais motivos para pedir do que ele)

Outra vez me disse que eu estava tomando uma decisão sem saber qual o tamanho da responsabilidade que assumia, sem lembrar que você também não sabia, antes de mim. Ninguém sabe de verdade, até ser mãe. 

(pais nunca sabem. tão não é a mesma coisa)

Então não posso chorar na sua frente, mas podemos comprar livros juntas, e conversar sobre a importância da leitura, e todos os valores que dividimos. As coisas que você me ensinou.

(Lembra aquelas manhãs em que você escrevia as histórias que eu contava? Eu nunca parei de contá-las, mas você parou de apoiar. Por que? Eu realmente não sei, não entendo, e me pergunto sempre.)

Então eu não posso chorar na sua frente, mas ainda falamos de música, de séries, de inglês e de tantas outras coisas. Os gostos que temos em comum ou não. As coisas que você me ensinou.

(Lembro das manhãs em que você cozinhava e botava rock para tocar. E eu? Eu inventava histórias para as capas dos cds e vinis. Lembro quando fomos com a minha mãe comprar para ti uma miniatura de bateria, já que não havia espaço ou dinheiro para uma de verdade.)

É tão engraçado pensar nesta coisa de pais, porque a distância diminui tanto depois de crescemos. E prefiro assim: conhecer como pessoa, defeitos e qualidades, conversas, momentos, prazer e não obrigação.  É mais interessante. É mais confortável. É mais verdadeiro, eu acho.

E, para mim, é excelente do jeito que é.

"E o que disserem,
Agora meu filho espera por mim"

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